terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Saudades! - História de vida (Parte 1)

Dizem que só o brasileiro sabe o que é saudade, vocábulo não traduzido para outros idiomas, porém, a verdade é que todos nós desde pequenos sabemos o gosto amargo que ela deixa.

Relembrar o passado é viver outra vez ou quem sabe reescrevê-lo, aprender com a vida as lições de sabedoria, aprender a não repetir os erros e fazer ainda melhor os acertos, tornando-se mais maduro e seguro.

No passado tive o privilégio de escrever minha história de vida, refletindo sobre minha educação básica e formação acadêmica, discutindo, indagando comigo mesma e com a vida parte do processo já vivido e vou contar para vocês os meus segredos; publicarei parte desta reflexão em capítulos, para você reviver comigo essa história...


  1. Descobrindo o mundo da escola:

Comecei a estudar aos cinco anos de idade. Lembro-me do primeiro dia... A escola era um espaço novo, grande e eu tinha a expectativa de poder fazer amigos e de brincar muito. Parecia que era um ambiente de crianças, afinal elas eram a maioria ali. Quieta, muito tímida permanecia observando aquela movimentação, sentia-me atraída pelo novo, apesar da insegurança enorme que prevalecia. Logo na mesma semana, vivi meu primeiro grande trauma: era aula de educação física e para mim parecia a mais legal de todas, afinal nesta aula as crianças corriam, jogavam bola, brincavam de roda e o uniforme era diferente para este dia e eu achava mais bonita, era uma saia pregueada de tergal azul marinho, com uma fofoca por baixo (fofoca era um short folgado com um ajuste nas pernas) e uma blusa branca. Naquele dia fui animada para a escola seria minha primeira aula de educação física, mas quando minha mãe foi comprar a farda da escola não tinha a fofoca do meu número, assim coloquei minha farda de educação física e por baixo da saia vesti um short azul que tinha e fui à escola, chegando lá minha mãe foi à secretaria ver se já tinha chegado a fofoca com minha numeração para que eu pudesse fazer a aula, mas não havia chegado à farda e fui proibida de fazer aula sem a farda completa. Ainda posso lembrar daquele momento, chorei muito, acho que durante a aula toda, fiquei ali no pátio olhando todas as crianças da minha turma brincando, rindo e eu não podia participar daquele momento. Meu sentimento era de rejeição, excluída da melhor parte da escola e por algumas semanas este episódio se repetiu, duas vezes por semana.

Gostaria de abrir aqui um parêntese para discutirmos o fato pedagogicamente. Qual é o papel da escola? Excluir ou incluir? Qual a necessidade real do fardamento naquele momento? Levando-se em conta que a falta do fardamento não representava ali uma opção, ou uma tentativa de me rebelar contra os princípios da escola e, sim, uma limitação da própria escola em fornecer o fardamento. Acredito que a instituição “escola” e também os educadores precisam definir prioridades no processo ensino-aprendizagem, o que é mais importante e entendo que a prioridade deve ser sempre a formação do ser humano, como diz o educador Paulo Freire em sua poesia:

A Escola

Escola é... o lugar onde se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente,

o aluno é gente, cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém, nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se “amarrar nela!”.

Ora, é lógico... Numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educa-se,

Ser feliz. [1]

Alguns anos já se passaram desde o episódio do uniforme, porém sabemos que ainda são muitos os que hoje exercem funções de educadores, sem ainda possuírem a clareza do seu papel docente. Às vezes entro em crise, achando que nunca será possível mudar essa realidade frustrante da educação no Brasil e satisfaço-me com a oportunidade de fazer a minha parte e ter a certeza de que não estou só.



[1]FREIRE, Paulo. A escola (Ref. Incompleta)

3 comentários:

  1. Seus textos falam verdades com muita simpliidade! Nos fazem refletir sobre várias áreas da vida! Está faltando o de hoje, rs! Estou ansiosa eperando!

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  2. É soane falar de uma história de vida é muito gratificante, mas para chegar aos dias de hj... kkkkkkkkkk. Teremos ainda muitos capitulos.
    BJK

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  3. Teremos ainda muitos emocionantes capítulos hem?! Cada vez que leio de novo vejo a grandeza de Deus em sua vida! Que a glória do Senhor esteja sempre sobre ti!

    Laí

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